18 de novembro de 2011

Dançar Educando e Educar Dançando

O início
     Por coincidência ou não, onze anos depois que o curso de Dança foi incluído ao currículo escolar, surge o programa Educação em Artes em Viçosa. Em 2008, foi lançada a última versão dos Parâmetros Curriculares Nacionais para Arte que incluiu oficialmente o curso ao currículo nas escolas. 
     A coordenadora do projeto, Alba Pedreira lembra que a criação do curso, assim como do programa, não foi uma tarefa fácil.  O primeiro foi criado em 2002 e o outro só passou a existir em 2008, quando a professora retornou à Viçosa depois de ausentar-se por quatro anos para doutoramento no exterior.

“Sou professora da UFV há quinze anos, mas a princípio eu trabalhava no Departamento de Educação Física. Eu fui uma das criadoras do Curso de Dança na UFV e leciono nele desde sua criação, há dez anos. Nesta época eu já pensava em um projeto como Educação em Artes, mas tive que esperar o Curso se estruturar melhor e muitas coisas aconteceram. Somente em 2007, quando voltei do meu doutorado no exterior, é que ele foi acontecer.” (Dra. Alba Pedreira)

   Com intuito de atender às escolas públicas Viçosenses, o projeto de Arte e Dança, deu origem a dois subprojetos: o de pesquisa Alfabetismo em Dança e o de extensão LudiDança. Sob a coordenação da professora Dra. Alba Pedreira, o programa conta ainda com o apoio de duas bolsistas pela FAPEMIG e pelo PIBEX, Daiane Santos e Fernanda Bastos, além da participação de vários voluntários dos Cursos de Dança e Comunicação Social.
   Viçosa é uma cidade carente de políticas educacionais que valorizem a arte e, especialmente, a dança como arte. Esta também foi uma motivação para que a coordenadora pensasse em desenvolver este projeto.  Além disso, Alba Pedreira também se sentiu estimulada por sua vontade de diminuir a disparidade social que reflete no acesso privilegiado que algumas pessoas possuem à arte.

“Com este programa espera-se que a educação para e pela dança possa possibilitar mudanças no baixo status que a educação em arte e em dança tem no Brasil, porque a maioria da população parece não apreciar a importância do seu ensino em um país que enfrenta vários problemas sociais, econômicos e políticos.” (Dra. Alba Pedreira)


Atuação do Programa
   Educação em Artes trabalha anualmente com três a quatro escolas públicas do município de Viçosa, geralmente atuando seis meses em cada uma delas. Este ano as escolas “escolhidas” são Anita Chequer, Dona Nanete e Maria José Santana. 
   Como atividades do programa há oficinas semanais, apresentações dos alunos do Curso de Dança da UFV para os estudantes das escolas e um pouco menos frequente, oficinas para professores, pais e funcionários das escolas participantes.

“Os projetos Alfabetismo em dança e LudiDança são desenvolvidos juntamente. Dentre as atividades há oficinas semanais com os alunos, com temas que variam desde apreciação de vídeos que mostram diferentes gêneros de dança. Além disso, trabalharmos conteúdos específicos da dança, como tempo, espaço, fluência, assim como estímulos de criação a partir de objetos, estratégias de manipulação em composições coreográficas, entre outros. Temos também, oficinas com pais, professores e funcionárias de cada escola (são três escolas, quatro turmas)”. (Daiane Santos)

“Feedback”
   O retorno do aprendizado parece ser imediato. As crianças ficam apaixonadas e cada vez com mais vontade de aprender a arte da dança. Por meio das aulas, elas podem se expressar e transformar toda a energia em aprendizado. Os professores e pais dos alunos das escolas participantes acreditam que a prática da dança possibilita o aumento da produtividade dos alunos também em outras atividades. 
   A aluna do oitavo período do Curso de Graduação em Dança da UFV, Daiane Gomes dos Santos, bolsista de Iniciação Científica pela FAPEMIG, destaca o feedback das crianças e a metodologia utilizada para comprovar este retorno.

“Nós, professoras e pesquisadoras, percebemos o entusiasmo de cada criança através do falar, fazemos diário de bordo de cada aula. Os questionários orais que aplicamos com elas em forma de desenho trazem respostas muito ricas. Como por exemplo, uma das perguntas foi ‘O que é dançar para você? ’. Alguns participantes responderam, ‘dançar é uma arte’, ‘é alegria’, ‘diversão’, ‘dançar é mexer o esqueleto’. A partir dessas respostas obtemos o conhecimento inicial em dança dos participantes. Ao final das atividades também fazemos o mesmo questionário para realizar as comparações.” (Daiane Santos)

    Mãe do aluno Raphael Lucas de Souza e tia de Hayssa Guimarães, Cláudia Valéria de Souza acompanha o filho e a sobrinha sempre que pode ir as aulas, pois acha fundamental a participação das crianças no projeto.

“Desde o início do projeto eu notei um grande desenvolvimento do meu filho. Por causa da dança sua concentração aumentou e ele está mais centrado na aula. A dança desenvolve o corpo e a mente. Eu acho essa iniciativa ótima e sempre que posso o acompanho e venho aos ensaios.”     (Cláudia de Souza)

  A professora do quarto ano da Escola Municipal Anita Chequer, Edilaine Gosado acredita que os alunos que dançam desenvolvem mais a criatividade, a concentração e são mais sociáveis.

“São realizadas excursões com os alunos, eles assistem aos espetáculos e também  se apresentam. A resposta dos alunos é muito positiva. Há uma melhora na concentração, na disciplina e até na socialização. O dia que tem aula de dança é o dia que eles mais gostam de vir à escola. O trabalho com o corpo, relacionado à música e ao ritmo contribui muito para o desenvolvimento deles. A partir de brincadeiras as crianças também criam passos de acordo com a criatividade.” (Edilene Aparecida)

Produção Cultural
   Educação em Artes não quer só reproduzir o que a sociedade faz. Este programa tenta dar certa autonomia para seus participantes. Nas danças que as crianças apresentam por vezes em eventos ou viagens, elas mesmas ajudam a criar desde a coreografia até a escolha da maquiagem. Possuem voz ativa, dizem o que gostam ou não das apresentações.
   O objetivo do programa é também valorizar a cultura brasileira, apresentando a seus participantes um pouquinho destes “Brasis”, por meio de danças típicas de cada canto do país e também de outros lugares como, forró, salsa, zouk, balé e dança árabe. Assim, se pretende romper com os objetivos mercadológicos da indústria cultural.

“Desde a criação do projeto eu gostaria de deixar claro que o conceito de arte que tratamos aqui não é de mercado. A única indústria que vejo neste sentido é a Universidade e com o intuito de produzir conhecimento”.     (Dra. Alba Pedreira)







Texto: Pâmera Mattos e Bianca Damas
Fotos e vídeos: Bianca Damas 

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